Que tal ser julgado por uma máquina?
Aficionados por ficção científica devem lembrar do computador HAL 9000, principal antagonista do livro “2001: Uma Odisseia no Espaço” do escritor Arthur C. Clarke e do filme homônimo dirigido por Stanley Kubrick. HAL 9000 era um computador dotado de Inteligência Artificial que controlava todos os sistemas da espaçonave Discovery One e possuía alta capacidade de compreensão da linguagem humana, o que lhe permitia interagir com toda a tripulação via comunicação natural.
Em 2011, a empresa IBM aproximou um pouco mais a ficção da realidade ao apresentar para o mundo uma máquina capaz de competir com seres humanos em um tradicional programa norte americano de TV de perguntas e respostas, o Jeopardy!. O sistema Watson, como foi batizado, competiu contra dois dos mais conhecidos e bem-sucedidos campeões do Jeopardy!, Ken Jennings e Brad Rutter, tendo-os vencido na competição de duas partidas, transmitida em três noites consecutivas no programa de TV, a partir de 14 de fevereiro de 2011.
Watson é um sistema de perguntas e respostas (QA) que utiliza técnicas de Processamento de Linguagem Natural (NLP) para analisar a pergunta em questão, identificar entidades e relações, gerar hipóteses para a resposta, encontrar evidências, ranquear as hipóteses para então, construir uma resposta adequada e sintaticamente bem formada. A base de conhecimento do Watson é formada por 200 milhões de páginas de conteúdo em linguagem natural, o que equivale à leitura de aproximadamente um milhão de livros. A arquitetura paralela de QA do Watson permite que todo o processamento seja dividido entre seus 2.880 processadores presentes num cluster de 90 servidores.
Vale ressaltar que esta arquitetura é adaptável para diferentes tipos de aplicações e domínios. Mais recentemente, em 2014, o Watson mostrou mais uma vez sua grande capacidade de revelar padrões e descobrir conexões desconhecidas em grandes volumes de informação textual já disponível. Nesta ocasião, o Watson “leu” 70 mil artigos científicos sobre a proteína p53, associada a muitos tipos de câncer e, em poucas semanas, permitiu a identificação precisa de várias proteínas que modificam a p53. Levando-se em conta que nos últimos 30 anos os cientistas descobriram em média uma proteína por ano, o potencial de uso do Watson para este fim é “assustador”. Graças a esta capacidade cognitiva do Watson, pesquisadores da Baylor College of Medicine selecionaram 6 destas proteínas para serem investigadas com mais profundidade quanto à capacidade de desativar a p53.
Em um mundo onde a maior parte da informação e rastros da comunicação humana reside em forma textual não estruturada de portais Web, blogs, artigos científicos e, particularmente, redes sociais virtuais, como Facebook, Twitter, Whatsapp e outros, sistemas automatizados de compreensão dessa linguagem natural humana, como o Watson, possuem um enorme potencial para transformar definitivamente o modo como os computadores podem ajudar as pessoas em sua vida pessoal ou profissional.
Que tal ser julgado por uma máquina?
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