Antidepressivos durante a gravidez e o desenvolvimento do cérebro


Gravidez é um desafio…, mas gravidez na sociedade moderna pode levar algumas mulheres à “loucura”! A pressão social e biológica sobre mulheres é uma tortura paradoxal. Parar de trabalhar? Como fica a carreira? Está passando da idade… Esses fatores unidos à enxurrada de hormônios que ocorre durante a gravidez parecem ser responsáveis pela alta ocorrência de depressão pré- e pós-natal.
Um estudo verificou que, durante períodos de 2001 a 2005, 6,6% das mulheres grávidas estadunidenses utilizaram alguma medicação antidepressiva durante a gravidez, sendo os inibidores seletivos da receptação de serotonina (sigla ISRS; como o Prozac) os mais frequentes, utilizados por 5,6% [2]. Esse tipo de intervenção, embora benéfica para as mães, pode interferir com o desenvolvimento do cérebro dos fetos.
O cérebro em desenvolvimento segue uma receita de bolo. É preciso quantidades bem específicas de cada ingrediente, adicionadas na hora correta, para o bolo não “solar”. Os ISRS aumentam a quantidade de serotonina presente na comunicação entre neurônios (inibem a reabsorção), o que pode ser suficiente para aliviar alguns tipos de depressão. Sabe-se que ISRS atravessam a placenta e chegam ao cérebro do feto, e que camundongos filhotes de fêmeas grávidas tratadas com ISRS apresentam malformação do córtex pré-frontal – área envolvida em processos de tomada de decisão, alguns tipos de memória, ansiedade e dependência de drogas [3].
Recentemente, um estudo gigantesco levantou dados de 15.596 crianças finlandesas durante 14 anos a partir dos seus nascimentos [4]. Essas crianças foram nascidas de mães pertencentes a três condições: grávidas diagnosticadas com depressão que compraram ISRS em farmácias durante a gravidez, grávidas diagnosticadas com depressão que não compraram ISRS durante a gravidez, e grávidas sem depressão. Os autores observaram que filhos de grávidas que compraram mais de duas receitas de ISRS durante a gravidez apresentaram um risco 37% maior da presença patologias da fala e linguagem quando comparados com o grupo de grávidas diagnosticadas com depressão não-medicada. Esse risco foi 63% maior quando comparado com o grupo sem depressão.
Esse estudo sugere que o uso de ISRS durante a gravidez aumenta o risco de desenvolvimento de patologias da fala, o que pode ser resultante de malformações cerebrais. É importante ressaltar que o efeito observado pelo estudo é considerado modesto, portanto esse estudo não deve ser utilizado como fator decisivo para tratamentos. Além disso, a depressão pré-natal, em si, parece estar relacionada às patologias da fala, uma vez que os efeitos são mais robustos quando comparando o grupo de grávidas medicadas com o de grávidas não depressivas.
A depressão pré-natal é um problema frequente, grave e pode precisar de intervenção. A associação entre o uso de ISRS durante a gravidez e patologias da fala levanta um fator a ser considerado quando intervenção medicamentosa for sugerida. Aliado a isso, uma sociedade com melhores condições para mulheres grávidas deve ser buscada, por exemplo oferecendo licenças de trabalho para mães e parceiros/parceiras mais extensas.

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Wescly Santana