Estudo: Brasil pode ficar 6 graus mais quente até final do século
Em razão do aumento constante da concentração de gases de efeito estufa
e de alterações significativas na ocupação do uso do solo, o Brasil deve chegar
ao final do século com temperaturas muito mais elevadas que as atuais e
intensificação sistemática dos eventos climáticos de larga escala.
Imagem
de satélite Terra, da Nasa, mostra o furacão Catarina momentos antes de atingir
os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em março de 2004. Crédito:
NASA/MODIS.
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A afirmação faz parte do RAN1, o primeiro relatório de avaliação
nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, trabalho assinado por 345
cientistas brasileiros que atuam em diversas áreas ligadas ao tema.De acordo
com o relatório, as projeções indicam que se o nível das emissões de CO2 e
outros gases do efeito estufa continuarem no ritmo atual, até o final do século
a temperatura média de todas as regiões ficará entre 3º e 6º C mais elevada que
em 2001. A Amazônia e a caatinga experimentarão 40% a menos de chuvas, enquanto
na região dos pampas o nível de precipitação poderá ser 30% maior que o atual.
No entender do climatologista José Marengo, Chefe de Divisão de
Pesquisas e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais, CEMADEN, os estudos mostram um aumento de temperatura em
toda a América do Sul com exceção do Chile, onde a costa sul e região central
apresentam resfriamento há algumas décadas. "A sensação é de que as
estações estão meio loucas, com manifestações mais frequentes de extremos
climáticos”, disse o cientista.
Com alterações extremas significativas, o país deverá conviver com
períodos de chuva forte e seca prolongada, além da possibilidade de surgimento
de fenômenos com grande potencial de destruição como o furacão Catarina, que em
março de 2004 atingiu a costa de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
Além das consequências criadas pela natureza, o estudo aponta que o
crescimento das áreas concretadas e asfaltadas intensificará as ilhas de calor
nas áreas metropolitanas, com consequente aumento da temperatura e mudança no
regime de chuvas.
Poucos Dados
Apesar de o relatório apontar um aumento significativo da temperatura
até o final do século, mais dados serão necessários para obtenção de quadro
mais preciso.
“Fizemos uma compilação crítica dos dados produzidos pelos estudos mais
recentes e verificamos que em regiões como o Centro-Oeste quase não há dados
disponíveis”, explica o meteorologista Tércio Ambrizzi, da Universidade de São
Paulo. “Além disso, também temos pouca pesquisa sobre o paleoclima no Brasil”.
Para o paleoceanógrafo Cristiano Chiessi, da USP Leste, que também
trabalha no relatório, as pesquisas sobre como era o clima do passado na costa
do Atlântico em torno do Brasil são extremamente raras. “Precisamos investir
nesse tipo de estudo para sabermos o que é variação natural do clima e o que é
decorrente da ação humana”, explicou Chiessi.
Modelo Climático Brasileiro
A divulgação do relatório marcará também a incorporação da mais
sofisticada ferramenta para estudo do clima brasileiro, o Modelo Brasileiro do
Sistema Terrestre, ou BESM, um conjunto de softwares que permite simular a
evolução dos principais parâmetros do clima em escala global.
“O Brasil é hoje o único país do hemisfério Sul a contar com um modelo
próprio”, disse o cientista Paulo Nobre, também ligado ao INPE e um dos
coordenadores do BESM. “Isso nos dará uma grande autonomia para realizar as
simulações que sejam de nosso maior interesse.”
O novo modelo permite, entre coisas funcionalidades, fazer projeções
sobre os efeitos no clima no Brasil provocados por mudanças no padrão da
circulação oceânica do Atlântico Tropical e também nos biomas do país.A versão
atual do BESM roda no supercomputador Tupã, instalado na unidade do INPE de
Cachoeira Paulista e já permite simular diversos fenômenos em escala global e
regional e revelar cenários futuros. Entre outros, o modelo já consegue
reconstituir a ocorrência dos últimos El Niños e estimar o retorno desse
fenômeno climático nos próximos anos.
FONTE: Apolo 11
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