O grande mistério da antimatéria
Além da matéria escura, energia escura, buracos negros,
e os bárions desaparecidos do universo, um dos mistérios mais
cativantes da cosmologia é a antimatéria. Particularmente, o mistério
centra-se na luta metafórica entre matéria e antimatéria, que foram
ambas criadas em proporções iguais durante a criação do universo cerca de 14 bilhões de anos atrás.
Antimatéria, resumidamente, é o inverso
da matéria. Enquanto a matéria é formada por partículas, a antimatéria é
formada, bem… por antipartículas! Elas possuem as mesmas
características das partículas (massa e rotação), porém tem carga
elétrica contrária.
Quando matéria e antimatéria entram em
contato, elas se aniquilam mutuamente em uma explosão energética.
Teoricamente, ambas foram criadas em quantidades iguais durante o Big
Bang, e é aí que reside o mistério: porque a matéria prevaleceu sobre a
antimatéria?
É tanto uma questão filosófica como uma
questão de física geral. Se a antimatéria não tivesse
desaparecido, nada no nosso universo físico (inclusive nós) existiria.
As aniquilações mútuas que teriam acontecido deixariam para trás um
universo brilhante, mas inexpressivo. Assim, para o que exatamente
devemos a presença prolongada de matéria normal?
Bem… a resposta a essa pergunta é
difícil, pois as condições que existiram durante milhões de anos após o
Big Bang são difíceis de especular, e muito mais de avaliar
completamente. A maior parte da evidência que temos para dissecar esse
mistério está na forma da radiação cósmica de fundo (CMB), que é um
fóssil do início do universo. Depois, há também neutrinos, partículas
fantasmagóricas criadas através de decaimentos radioativos. A criação de
antimatéria em laboratório e o estudo de suas propriedades certamente
irá desmascarar algumas das perguntas que temos sobre o inimigo notório
da matéria normal.
Ao tentar localizar uma resposta às
nossas questões remanescentes, os cientistas primeiro tiveram que
calcular uma porcentagem aproximada da matéria normal que ganhou de sua
anti-homóloga, com apenas uma partícula extra de matéria normal
sobrevivendo por cada 30 milhões de partículas de anti-matéria.
Isso traz à tona um debate interessante. É possível que o universo tenha
nascido com esse desequilíbrio para permitir que essa flutuação ocorra?
É improvável; portanto, o físico russo Andrei Sakharov levou a questão
de volta para a prancheta em 1967.
Para que haja mais matéria do que
antimatéria, ele postulou que são necessárias 3 condições. Primeiro, ele
argumentou que nenhuma lei de conservação pode proibir reações que
impactariam de forma eficaz o delicado equilíbrio entre as partículas e
antipartículas. Para que isso seja viável remotamente, ele teorizou que
as leis da física podem variar um pouco para a matéria e anti-matéria.
Curiosamente, esta era uma reivindicação
muito ousada, uma vez que nenhuma reação tinha sido realizada
experimentalmente… isto é, até que as partículas chamadas “kaons de
longa duração” entraram em cena. No laboratório, foi revelado que a
força fraca de fato não age igualmente entre quarks e os seus homólogos,
anti-quarks. Como a maioria de nós sabemos, a interação fraca é uma das
quatro forças fundamentais da natureza postas adiante no modelo padrão da física de partículas.
Esta é a principal responsável pela desintegração radioativa de
partículas subatômicas como férmions, cujo spin é um semi-inteiro.
Por fim, muito cedo na vida do universo,
várias reações diferentes entre as partículas e antipartículas
começaram ocorrendo a taxas muito diferentes entre a radiação e o plasma
primordial quente. Isso só seria possível se eles não estivessem em
equilíbrio térmico. Se fossem, o estado altamente desequilibrado do
universo não persistiria e ambas as partes iguais de matéria e
antimatéria permaneceriam, destruindo-se mutuamente.
Quase 50 anos depois, grande parte das
condições de Sakharov ainda são relevantes, já que os modelos padrão da
cosmologia e física de partículas (junto com as simulações feitas usando
aceleradores de partículas) têm nos ajudado a compreender as condições
do universo logo após o Big Bang, sugerindo que nos primeiros 10-12
segundos de existência do universo, as interações de partículas eram
muito diferentes das que vemos hoje. Particularmente, elas eram muito
mais ativas, pois a maioria permanecia sem massa. Até que o universo
começou a expandir-se rapidamente e, gradualmente, esfriou, permitiu que
partículas ganhassem massa, uma vez que interagiam com o campo de Higgs
e mudavam para um estado de menor energia mais favorável.
Os aceleradores de partículas como o
LHC e o Fermilad aceleram prótons e antiprótons a velocidades próximas à
velocidade da luz antes de colidir violentamente umas nas outras.
Isso indicou que a matéria é mais prevalente do que antimatéria apenas
cerca de 1% do tempo dos testes, o que é um número pequeno, mas ainda
significativo e pode explicar o domínio da matéria normal em todo o
universo.
Fonte: [FromQuarksToQuasars]
O grande mistério da antimatéria
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